quinta-feira, 3 de junho de 2010

sujos hábitos


Tenho que fazer de conta que não existes. É o meu dever.
Tu sabes que eu sei o que se passa a minha volta, tu sabes que eu sei o que me vais contar do teu dia, tu conheces-me bem. E eu conheço-te bem, assim que sei que tu sabes o que guardo de ti. Eu não preciso da tua generosidade para comigo e tu não precisas de mim contigo.
Peço-te. Larga as tuas boas palavras. Palavras leva-as o vento e eu habituei-me demasiado a agarrar tudo o que ele me trazia, de ti para mim. Trazia-me o teu lado bom e eu ia matando as saudades que guardo de ti. E eu habituei-me a isso. A questão é esta: eu sempre me habituei ao que me entregavas e tu nunca te habituaste ao que eu te dava. Perdendo-se os hábitos, sente-se a falta. Tu, na realidade, nada perdeste. Não tens um único hábito, o que faz de ti uma pessoa extremamente feliz. E eu observo-te todos os dias como um protótipo da sociedade; contigo nada se torna turvo, nada se esquece e tudo é perceptível. Atormentas-me sabendo que não és digno do que te considero mas, meu doce, eu também já me habituei a largar-te, não custará tanto agarrar-me a esse velho hábito em vez de me agarrar aos ventos que te trazem até mim.
Hoje tenho e vou fazer o que devo fazer. Se fizer o que sinto, corro o risco de me habituar outra vez a ti.

3 comentários:

Vera disse...

Tens sempre textos que me deliciam. Há pessoas dessas, pelo menos uma vez na nossa vida! beijinho*

Marilena R. disse...

Gostei tanto *

Diogo Silva disse...

Lindissimo mesmo...os tipicos textos da tua pessoa =D marcam sempre que são lidos
parabens