Compreender é muito mais do que perceber através dos sentidos. É mais profundo, mais escondido e é, provavelmente, a descoberta do dark side da alma. Compreender é conhecer o outro lado sem ver, sem tocar, sem falar. É saber o que não é preciso ser dito e perceber que, na maior parte das situações da nossa vida, mais vale um olhar do que uma palavra, uma percepção dos sentidos sem usufruir deles, uma capacidade de transmitir segurança e tranquilidade como se duas almas vivessem num corpo só. Compreender, para além de incluir algo dentro de nós, é ter algo que saiba estar incluído sem requerer por simplesmente saber que aqui pertence.
Se me perguntarem se percebo o que me rodeia, a minha resposta será única e exclusivamente afirmativa; caso me perguntem se me compreendo, aí o caso já muda de figura. Nem sempre é fácil compreendermo-nos. Para além de ser um acto divino dos outros e digno de respeito, é árdua e, por vezes, ineficaz esta tentativa de nos compreendermos todos os dias. Eu sou apologista de que só fazemos o que queremos, que nenhum ser é obrigado a agir de determinada forma se assim não lhe apetece. E tenho dias que não me apetece compreender. Típica atitude portuguesa de uma preguiçosa que não lhe apetece pensar. Compreender-se sozinho é ser atormentado. Não há nada melhor do que ter a nossa mão apertada de alguém que nos sabe compreender exactamente no momento em que não nos apetece pensar para percebermos. Alguém. O único alguém que sofre para tentar entender.
Por isso, eu prefiro que me percebas todos os dias em vez de carregares aos ombros este fardo que tanto pesa a consciência, tanto cansa a alma e tanto sentimento precisa.
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