sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

estrela-guia de noites de temporal


A vida tem um sentido místico onde existem mil mistérios por desvendar para lá do visível e sons que não se ouvem, mas pressentem-se.
Caio com a cabeça no parapeito da janela, tristeza que se apoderou novamente de mim. É noite, noite escura e noite de temporal. Não consigo observar as estrelas, os seus brilhos dissiparam-se no vazio... profundo vazio! Resta-me uma única estrela, minha companheira de noites de temporal. Os ruídos cada vez mais persistentes perturbam-me e provocam-me uma irritação enorme. Maldita tempestade que absorve a boa disposição de um passeio organizado por um grupo de amigos e espalha, por todos os cantos por onde passeia, os seus constantes barulhos perturbadores. A persiana que se pousa no cimo da minha cabeça bate cada vez com mais intensidade no vidro. A minha face gela quando me deixo levar pelo vento que a esfria. Aliciam-me essas porções minúsculas e globosas de água; adoro só o facto de como aparecem inesperadamente e como as suas pequenas doses enchem um campo a uma velocidade incrível. Durante o dia, aprecio a forma como um feixe de luz solar vai de encontro às gotas de chuva; os raios luminosos reflectem-se no interior da gota e emergem por outro ponto da mesma, originando um fabuloso feixe de cores.

Mas agora o profundo silêncio da noite chama-me, deixo-me sempre levar por seus gritos que me acalmam numa pequena fracção de minutos. O segredar entre corujas, o esvoaçar dos morcegos, o som dos pirilampos... todos os mais pequenos detalhes de uma noite de tempestade me fascinam. Retiram-me o prazer da liberdade e parte da minha boa disposição, mas atraem-me novos sons e novos mundos.

A minha escrita baseia-se basicamente no relatar da minha visão nocturna; visão essa que sempre me despertou um interesse súbito. A escuridão é de extremos – tanto reflecte o seu lado calmo e belo como reflecte o seu lado violento e de intensa confusão. É pela calada da noite que o inevitável, por vezes, acontece! É quando o Sol se põe que os actos mais obscuros e desumanos se realizam. São estas realidades que provocam um enorme mau estar em mim e, sobretudo, uma constante revolta. Incessantemente estas realidades são constatadas; porém, jamais existirá alguém com mentalidade suficiente para travar estes actos maldosos desta vida nocturna.

Os meus maus pensamentos dissiparam-se no vazio da escuridão e hoje é noite de lua cheia. Noite de lobisomem para uns, malditos mitos. O temporal não me permite observar os detalhes da Lua, contrariamente ao que acontece em noites de Verão.

O tempo da noite passou a uma velocidade tão intensa como o aparecer e desaparecer de gaivotas no cimo da minha casa; a estrela com quem dialogava já fugiu para o seu devido lugar, já é quase dia, o céu já clareia e restam apenas vestígios de uma violenta noite. Os campos cobertos de branco, árvores desfeitas no meio das ruas impedindo o trânsito, casas que irão ser evacuadas... O temporal é bonito aos olhos de uns; prefiro deixar-me envolver por ele no escuro da noite sem desvendar os seus mistérios da manhã seguinte.

Aguardo agora que a próxima estrela me chame para mais uma noite de temporal, já ganhamos uma certa cumplicidade. As estrelas, lindas estrelas, que possuem uma capacidade de guardar os nossos segredos a sete chaves. Até à próxima tempestade, minha estrela-guia.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

demasia

“Julguei-me grande pelo sentimento e pelo orgulho ainda sou maior”



A vida tramou-nos. Não há maior certeza do que essa; os nossos caminhos trocaram de direcções e tornaram-se demasiado desorientados. E essa tua forma de encarar os problemas que se tentam apoderar de ti espanta-me, espanta-me ao ponto de desconhecer a razão da mesma. (Ensina-me a resolve-los da mesma forma, ensina-me a soltar, ensina-me a dar a volta por cima sem chorar. )
(...)
Talvez o tempo nos tenha trocado as voltas, julgamo-nos fortes e capazes de o enfrentar e ele revelou-se no nosso inimigo. O nosso curto tempo ultrapassou todas as barreiras do longo tempo que o sucedeu - tu percebes. Aprendi contigo a ler nas entrelinhas, uma vez que objectivos e definições nunca foram o nosso forte. Digamos antes que definir o sentimento/relação dificultou-nos ligeiramente, embora jamais nos sentiremos capazes de divulgar nossos pensamentos à cerca do mesmo. Afirmo, sem margem para duvida, que encontrar outra alma compatível a ti é missão impossível. Foste a minha maior lição; a única pela qual não tinha intenções de finalidade e jamais contaria os minutos do seu percurso.
Os meus medos dissiparam-se no momento em que te entreguei o melhor de mim sem esperar nada em troca; mas talvez fosse o nada em demasia que provocasse o constante cansaço e desgastasse a força de vontade. Julguei-me demasiado certa por te ter e demasiado correcta nos meus actos quando, no fundo, tornei-me na maior causa da nossa destruição e sempre deixei o orgulho vencer-me em todas as batalhas. Não sou tão forte como julgas, alicia-me o ‘parecer sempre bem’ e baseei-me demasiado nisso. Tornei-me fracassada, incapaz de te valorizar. Tornei-me tão incerta dos meus pensamentos como da razão da nossa existência e pus de parte as nossas vivências partilhadas. Não irei culpar o sucedido devido ao tempo, distância e factores que sempre conseguimos combater.
Na realidade não fraquejei constantemente; os fracos não são os que perdem, são os quem nem se dão ao trabalho de tentar. Julguei-me sempre certa de que o tempo ajudaria em tudo, enquanto me esqueci de que o tempo passado foi demasiado tempo para o tempo que necessitávamos. Não perdi a guerra; tornaste-te no meu “jogo vicioso” ao qual não conseguirei largar, mas já estou demasiado habituada a não te ter quando o meu desejo contraria esse hábito.
A vontade de te voltar a ver nunca desapareceu; sou demasiado agarrada a sentimentos (se é bom ao mau não me é relevante). Não julgues que as memórias fugiram.
Desculpa por apreciar tanto o ‘demasiado’, mas já deverias saber que sou de extremos. Oh, amei-te demasiado para desapareceres agora...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

realidades


Livres? Jamais o seremos.
Somos racionais, possuímos a capacidade de pensar e realizar na altura desejada. Somos vingativos; vivemos com a mania da perseguição e julgamo-nos superiores a tudo e todos. No entanto somos incapazes de lutar contra as nossas próprias limitações já estipuladas, essas sim, são bem definidas e nunca se perdem no seu percurso de vida. Tentamos arranjar definições para conceitos demasiado relativos e achamo-nos capazes de chegar ao fim do mundo. Somos influenciados todos os dias. Não sabemos lidar com a diferença e limitamo-nos a seguir modas.
A forma como agimos antecede sempre algo, não possuímos o poder de tudo e todos. O que se sucede na nossa vida, tem razão de suceder; o que idealizamos realizar numa determinada altura é uma consequência inevitável das causas que o antecedem. Jamais possuiremos o controlo para sermos considerados livres e as nossas limitações irão ultrapassar-nos constantemente ao longo da nossa vida em todos os obstáculos.
“Em cada gesto perdido, tu és igual a mim
em cada ferida que sara escondida do mundo, eu sou igual a ti”
Não somos diferentes de ninguém pois não temos a capacidade de marcar a diferença, por isso não temos o direito de julgar os que se tentam diferenciar de nós de uma ou outra maneira, No fundo, os nossos objectivos de vida estão mais preocupados em olhar pelos outros do que por nós, por isso é que nos limitamos demasiado a observar do que a agir. Não somos livres, somos dependentes. Não somos lutadores, somos fracos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

equilíbrio


Hoje senti-me realmente bem...
Porquê?
Porque pus-te de lado dos meus pensamentos e despedi-me de ti.

domingo, 18 de janeiro de 2009

até um dia

“Tudo aquilo que vivemos são histórias, tudo o que temos agora são memórias.”

Os minutos escassearam-se, perdemos completamente a noção do quanto eles nos prejudicaram. Deixámos fugir o que tivéramos construído em tempos e nem nos limitamos a guardar algo entre nós. O que em tempo fora nosso, agora é desconhecido; ou então é teu e não meu ou meu e não teu.
A partir de agora não te preocupes, segue o teu caminho de vida que eu sigo o meu, uma vez que os nossos caminhos juntos iriam dar mau resultado (no teu ponto de vista, claro). Como não sou dona nem senhora de nada, jamais conseguirei mudar o teu ponto de vista. Sendo assim, até um dia…

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

meu querido quotidiano



Cinco horas de sono e muito mal dormidas, como habitual. Tornou-se na minha rotina, a minha mais difícil rotina. Dorme, não dorme, dorme, não dorme… Já o ponteiro coincidia com o pequeno traço das 7horas do dia quando a alvorada cá em casa despertava. O meu ninho quente e acolhedor chamava cada vez mais por mim, mas a obrigação falava mais alto. A constante procura de alguma vestimenta calorosa e confortável regressou – veste camisola, tira camisola, veste calças, tira calças, veste casaco, tira casaco - e óbvio que o sapato alto não pode faltar – a combinar sempre com o meu traje. O café já esfriava de tantos minutos ali parado e aproximava-se a hora do despacho de todos cá de casa; que correria! Café tomado, roupa vestida, luvas nas mãos, carteira ao ombro e, porta fora! A minha cara já gelava e a habitual batida de dente não poderia falhar. Com a pressa nem sequer me maquilhei nem penteei, julgo não me lembrar de estar naquele estado tão deslavada; mas, para te ser sincera, já nem importância tem. Na verdade, não será a minha cara bonita e os meus longos cabelos loiros bem penteados que me irão fazer ganhar o dia; o aspecto físico não deveria ser a base do bem parecer… mas é, oh! Custa escrever, as mãos permanecem gélidas e a falta de vontade do trabalho árduo da manhã habita em mim. Nem sinto a caneta nos meus dedos, nem tão pouco me apetece por o cérebro a funcionar; ando demasiado preguiçosa. Quando o relógio já batia as doze badaladas, é altura de descansar, ouvir uma boa música e… o mesmo pensamento de sempre, o inevitável. Já nem maneira há de disfarçar, que tédio! A minha maior tortura e o maior motivo pelo qual os pensamentos positivos mudaram de sentidos e as suas orientações desencontraram-se; o motivo que leva ao arder dos olhos num acordar às 4horas da manhã e a falta de vontade de sorrir quando a melhor das piadas é lançada ao ar; o mau humor matinal – matinal, tardal, tudo! (até à invenção de novas palavras, vê lá tu…) O tempo não pára e com isto tudo chega novamente a hora do trabalho. Agora sim, agora voltou a concentração que tanto faltou no mês anterior e os meus objectivos e prioridades tornaram-se, novamente, bem definidos. Afectas-me, melhor, afectas-me pouco agora. Agora é altura de pagar por me teres afectado demasiado até, altura de levar nas orelhas pelos actos realizados de forma indesejada há uns tempos atrás. Digamos que consigo lidar melhor com o facto de me afectares, visto que o meu esforço e a minha garra voltaram mas tu não foste embora... (não te preocupes, julgo que tão cedo não vás). Hoje recordei-me de ti - para não variar – como deu para reparar. Não há dia nem noite sem a tua presença, já me habituei, meu querido quotidiano.