quinta-feira, 27 de novembro de 2008

alma perdida



Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras minha alma
Que chorasse perdida em tuda voz!...

in Livro de Mágoas, Florbela Espanca

domingo, 23 de novembro de 2008

inquietação envolvente

A porta parece mover-se sozinha, talvez devido às correntes de ar que abrangem a casa por completo. As cortinas esvoaçam, as folhas do caderno colocado por cima da habitual secretária de estudo junto à janela, soltam-se e espalham-se pelo ar, as duas portas do pequeno compartimento do calçado abrem-se e fecham-se assim sucessivamente; que inquietação. É esta inquietação que ocupa o ar vazio dos, talvez 18 metros quadrados do local onde desfruto da maior parte do meu tempo. Sim, aquele local que mais me acalmava, que me trazia uma enorme paz e conforto, mergulhou-se na inquietação que atinge tantos e tantos locais como este. É ligeiramente estranha esta sensação de desconforto e observar tanto movimento à minha volta. A porta já nem fecha, deve-se ter apercebido que falta a entrada de algum ser e já perdi todas as memórias guardadas no pequeno caderno, que pena, que grande pena! É claro que esta inquietação me afecta,é claro que tudo isto visto do outro lado da casa é banal, sempre foi. É claro que para quem está fora da janela a observar por entre as cortinas esvoaçadas, deduz que a casa está ou assombrada ou que vivem lá malucos. É claro que é muito fácil falar. Agora ouço constantemente o esvoaçar das folhas soltas que voam em minha direcção, são as folhas do caderno secreto sem chave, perdi-a num dia em que fui sair contigo, com a pressa nem me apercebi de que a chave se tinha soltado do porta chaves que andava preso no meu bolso direito, ainda me recordo. Aliás, eu recordo-me de todas as saídas e entradas desta porta, dos locais que visitei e das lembranças que guardei no caderno. São essas as lembranças que amaldiçoam, que me trazem o mesmo pensamento a todas as horas e todos os minutos, por muito que eu lhes peça para não o fazerem. Malditas, nunca me obedecem. Parecem velhotas constantemente as resmungar comigo, ou porque sem querer não me coloquei no meu devido lugar à entrada do autocarro ou porque sem querer calquei o seu pé e já é caso de cair o mundo aos santos! Confesso que as lágrimas já são inevitáveis quando seguro nos pedaços de papel que te tentei entregar. Tarde demais! Perdi. Não, não perdi, esqueci-me de vencer a última batalha, a guerra ainda não terminou. E por muitas lágrimas derramadas que sejam, não significa que a guerra está perdida. Já devias saber que não me deixo vencer facilmente, nem esta porta inquieta me vai ganhar. Julgo que ela sente a tua falta, segreda-me ao ouvido de vez em quando e eu aprecio os seus desabafos. Se soubesses ... Castiga-me imensas vezes por eu não fazer isto ou aquilo, por eu gostar demasiado do jogo dos porquê's, por eu ser virada para os "meios-termos" e não gostar de ser a primeira em nada. Oh, se castiga! Nem me deixa dormir, para tu veres que eu hoje, a um domingo, acordei às 7h30 certinhas e nunca mais preguei olho. Maldita a hora em que eu coloquei a cama ao lado da porta. Mesmo os seus constantes movimentos, a nossa foto lá colocada não descola. Decidi, então, revelar-lhe alguns segredos, como ela por vezes mo faz. Confesso que me senti imensamente bem, libertar esta reviravolta de sentimentos e voar por entre as folhas despedaçadas; soube-me mesmo bem ouvir outras palavras sem ser as tuas que não me saiam da cabeça, soube-me bem não ter medo de chorar perante ela e não ser alvo de"a culpa é tua". Soube-me bem este conjunto de compreensões e troca de impressões, deu-me saudades, confesso também. Nem capaz fui de calcar as lembranças escritas nas folhas de papel, a porta trouxe-as até mim, eu li, e reli, li e reli, li e reli vezes sem conta. Julgo que não te apercebeste de que eu era também afectada, e nem te apercebeste que sou demasiado agarrada a sentimentos. Este ar ofusca-me a vista, sinto-me ligeiramente mal e julgo que vou sair daqui. Irei terminar isto de uma só maneira. Esqueceste-te de fechar a porta ou fizeste de propósito para que ela ficasse aberta?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

destruição




Julgas estar certo da tua vivência quando, no fundo, limitas-te a observar o passar do tempo e divertes-te a calcular a velocidade dele, só para tentares mostrar o teu lado inteligente a física e química. E no meio dessa tua grande bola de cristal que tu conduzes, já nem espaço há para os que mais te acolhem, sem te aperceberes vais destruindo cada brilhante desse teu cristal. (Ai desculpa, esqueci-me de que sempre te esqueceste demasiado do nosso dia-a-dia)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

desculpas de lixo

Errar, acto mais banal e verbo mais divulgado.
E por que razão erramos tanto? Ora, se seguirmos a definição do censo comum é porque Deus criou o ser humano imperfeito, e ponto final. (Parágrafo, não acaba aqui)
Partiremos para as filosofias da vida, mas será que o ser humano não pode pensar nas consequências dos seus actos? Irá o Homem continuar a errar vezes sem conta e usar a palavra "desculpa" como diz "bom dia"? Que desgastada que esta palavra está. Chega a um ponto que perde a sua importância e um pedido de desculpas já não tem valor algum. Iremos todos nós, humanos, abusar e e calcar os outros, continuaremos a desculpar-mo-nos constantemente e não damos conta do tempo passar e da velocidade dele, e de que tudo tem o seu limite. A nossa vida continuará a passar ao nosso lado, idêntica à nossa sombra. Esqueceremos as palavras pronunciadas num dia em que acordámos com os pés de fora da cama e que, devido a isso, maltratámos os nossos chegados e, provavelmente, nem nos iremos lembrar da quantidade de vezes que prometemos não voltar a fazê-lo. A desculpa tornou-se num impulso.
Oh meus caros, a vida não necessita de se afastar de nós se soubermos cuidá-la e construi-la devagarinho, ela não chega ao segundo andar sem se construir o primeiro. Para mim, os pedidos de desculpa tornaram-se tão constantes que são como os papéis que atiro para o chão: uso e abuso deles, amachuco-os e deito-os fora. Deixei de gostar das desculpas ditas da boca para fora e que não são completadas com acções. Ah, são ironias da sombra da vida (ou da nossa sombra).

domingo, 9 de novembro de 2008

15

Fotografia é arte.
Hoje tenho quinze (embora não tenha vontade de os ter)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

à minha maneira!

Eu já previa tudo isto, sinceramente. Burrice a minha que nem capaz fui de abrir os olhos à primeira, incrível. Diz-me, porque razão voltei a cair no mesmo erro de confiar inteiramente em ti? Se no fundo, algo me chamava para a razão, cruel e dura, mas era a realidade. Talvez pensasse que agias de igual forma comigo como eu agia contigo. Talvez fossem as tuas doces palavras do inicio que me faziam voar (contigo ou sem ti) e pudesse ter confiança total. Curioso, pois neste momento não existe confiança nem por parte de um, nem por parte do outro. Que erro, que grande erro! Pois é claro que tudo era belo quando vivíamos verdes. E sem dúvida que chegámos a alturas em que éramos "um só". Só havia um dia-a-dia, o "nosso". (Espera, houve mesmo ou sou eu a dizer o que gostaria que existisse?)
Bem, já deves ter reparado que continuo com a incerteza em mim. Nunca tenho respostas para o que julgas ser óbvio e perco-me no meio do nada. No entanto informo-te que as tuas acções também não ajudam, pois a incerteza está 24 horas por dia em mim, infelizmente. Afogo-me em passados constantemente remexidos que, por muito que eu não queira, abalam-me. Sim, meu amor, abalas-me! A maior incerteza da vida, digo-te, é não saber definir o que se sente ou a razão da existência. Falo por mim, que tanto tenho o controlo de todos os meus actos, como a seguir vejo tudo o que construí a desmoronar à minha volta. Sabes qual foi o meu mal? Envolver-me demasiado nas tuas palavras, querer demasiado ter-te do meu lado quando, no final, estava sozinha, oh! Procuraria eu alguma alma capaz de habitar os jardins, outrora abandonados, juntos aos meus. Esse alguém serias tu, até que as tuas visitas seriam cada vez mais e mais escassas, até que o vento levasse a brisa do teu perfume... Se passares por lá um dia, repara como até as flores foram perdendo a cor. (Mas eu continuava a acreditar que eras capaz de permanecer mais tempo, agora já não). Oh metáforas, mais e mais metáforas, porque tentais complicar o simples e objectivo?
Digo-te agora, com toda a certeza, que não irás possuir mais os meus desabafos e o meu quotidiano, nem voltarás a aproximar-te dos meus jardins vizinhos, só pelo simples facto de eu já não querer mais a tua presença aqui e sou eu que a partir de agora vou visitá-los. (Mas só quando as tuas lembranças se esgotarem)
A partir de agora, é à minha maneira!

domingo, 2 de novembro de 2008

e mais não digo.


"e hoje, ao ver o Mundo assim, com o mal a vencer o bem, eu só confio em mim, só em mim e mais ninguém"