Nunca saberás o que é a pobreza. Nunca necessitarás de recorrer aos actos mais obscuros para possuíres o que sonhaste desde a tua infância nem sentirás o calor do solo nos teus pés, queimando e deixando-os imundos.
Alias, tu não sabes o que é sonhar. Os teus sonhos estão repletos de futilidades e raparigas bailarinas dançando só para ti numa discoteca, com aquelas roupas escaldantes que te excitam. Se sonhas, tens. Se tens, não são sonhos. Sonhar é entrar no mundo quase impossível de alcançar, sonhar é voar alto e esquecer o que existe na terra. É desejar e não ter, é querer alcançar e não poder.
Um dia apresento-te o menino que conheci na rua, chama-se Rafael. Sabes, o Rafael nunca saiu do mundo da rua, nunca sentiu um banho de água quente nem tão pouco umas botas para a chuva. Rafael anda descalço na rua, estendendo a mão a todos os habitantes pedindo esmola para conseguir alimentar o seu estômago que faz ruído a toda a hora. Por vezes encontra uns chinelos no canto da rua, quando as pessoas se cansam de os usar e encostam, como quem encosta um saco do lixo depois de lá depositar os restos de um jantar. Um dia encontrou umas sapatilhas e uma bola de futebol; os seus olhos até cintilavam de alegria. A casa do Rafael – se é que lhe posso chamar casa – fica nos subúrbios da cidade, juntamente com os restantes sobreviventes daquela má vida. Rafael aprendeu a guardar para ele os seus próprios sonhos e por isso nunca soube lutar para os concretizar. Rascunha os seus papeis com um lápis encontrado no chão e vai escrevendo, escrevendo, escrevendo tudo o que sonha, como se os papeis o ouvissem e pudessem realizar cada letra desenhada. Fiz-me passar pelos seus papeis e, escavando as folhas, fui descobrindo cada palavra lá escondida por entre lágrimas derramadas. O sonho, o verdadeiro sonho do Rafael é sair da rua, é ter a sua própria vida. O seu sonho é ter uma casa para ele e para a sua mãe. O Rafael não conhece nem metade das marcas de roupa, sapatilhas e afins que tu usas diariamente, o Rafael desconhece as novas tecnologias e o cheiro dos perfumes. Por isso, não sonha com coisas tão supérfluas como estas. Os sonhos são criados pela magia, embrulhados pela fantasia e decorados pela alegria. E alegria não significa bens materiais, há algo que distingue o Rafael de um menino como tu. O Rafael é feliz, é feliz porque já conhece meio mundo e, independentemente do pouco que tem, do sitio onde vive, tem a mãe ao lado dele, tem o carinho e recebe o beijinho de boa noite sempre que o sono desperta. Apesar do pouco que sempre teve, nunca se influenciou pela má vida da rua. Os actos obscuros nunca o aliciaram e por isso o pequenino Rafael moldou-se às melhores qualidades, qualidades essas que provavelmente nunca as conhecerás.
O Rafael tem força de viver, coragem para enfrentar todos os perigos e o seu único sonho, aquele que o faz conhecer o branco das nuvens, o azul clarinho do céu e o único que o faz dialogar com os passarinhos, é habitar num mundo melhor.
Alias, tu não sabes o que é sonhar. Os teus sonhos estão repletos de futilidades e raparigas bailarinas dançando só para ti numa discoteca, com aquelas roupas escaldantes que te excitam. Se sonhas, tens. Se tens, não são sonhos. Sonhar é entrar no mundo quase impossível de alcançar, sonhar é voar alto e esquecer o que existe na terra. É desejar e não ter, é querer alcançar e não poder.
Um dia apresento-te o menino que conheci na rua, chama-se Rafael. Sabes, o Rafael nunca saiu do mundo da rua, nunca sentiu um banho de água quente nem tão pouco umas botas para a chuva. Rafael anda descalço na rua, estendendo a mão a todos os habitantes pedindo esmola para conseguir alimentar o seu estômago que faz ruído a toda a hora. Por vezes encontra uns chinelos no canto da rua, quando as pessoas se cansam de os usar e encostam, como quem encosta um saco do lixo depois de lá depositar os restos de um jantar. Um dia encontrou umas sapatilhas e uma bola de futebol; os seus olhos até cintilavam de alegria. A casa do Rafael – se é que lhe posso chamar casa – fica nos subúrbios da cidade, juntamente com os restantes sobreviventes daquela má vida. Rafael aprendeu a guardar para ele os seus próprios sonhos e por isso nunca soube lutar para os concretizar. Rascunha os seus papeis com um lápis encontrado no chão e vai escrevendo, escrevendo, escrevendo tudo o que sonha, como se os papeis o ouvissem e pudessem realizar cada letra desenhada. Fiz-me passar pelos seus papeis e, escavando as folhas, fui descobrindo cada palavra lá escondida por entre lágrimas derramadas. O sonho, o verdadeiro sonho do Rafael é sair da rua, é ter a sua própria vida. O seu sonho é ter uma casa para ele e para a sua mãe. O Rafael não conhece nem metade das marcas de roupa, sapatilhas e afins que tu usas diariamente, o Rafael desconhece as novas tecnologias e o cheiro dos perfumes. Por isso, não sonha com coisas tão supérfluas como estas. Os sonhos são criados pela magia, embrulhados pela fantasia e decorados pela alegria. E alegria não significa bens materiais, há algo que distingue o Rafael de um menino como tu. O Rafael é feliz, é feliz porque já conhece meio mundo e, independentemente do pouco que tem, do sitio onde vive, tem a mãe ao lado dele, tem o carinho e recebe o beijinho de boa noite sempre que o sono desperta. Apesar do pouco que sempre teve, nunca se influenciou pela má vida da rua. Os actos obscuros nunca o aliciaram e por isso o pequenino Rafael moldou-se às melhores qualidades, qualidades essas que provavelmente nunca as conhecerás.
O Rafael tem força de viver, coragem para enfrentar todos os perigos e o seu único sonho, aquele que o faz conhecer o branco das nuvens, o azul clarinho do céu e o único que o faz dialogar com os passarinhos, é habitar num mundo melhor.
6 comentários:
emocionou me :)
sim se fosse tao fcil como falar nao precisamos de mais nada
um beijo
bem, que textão , as vezes queremos tantas coisas futeis e esquecemo-nos das coisas importantes que faltam a muitos ,
um beijinho,
● BlackDreams *
Este texto dá que pensar . Mesmo ...
Fogo Catarina :o
Que texto lindo!
«3
Foi o melhor texto que já li até hoje, o melhor!
É estranho e triste saber que ainda existe pessoas que vão vivendo assim, contentam-se com coisas velhas e usadas, contentam-se com coisas, que para nós, são mínimas e normais. Para nós um par de chinelos usados e velhos é lixo, para o Rafael aqueles chinelos ainda vão caminhar muito. Nós não pensamos que existe crianças assim, que ainda existe milhões e milhões de pessoas a viver nestas condições, e para te ser sincera, estas coisas já me chocaram mais, porque todos os dias ouço coisas horríveis de uma pura pobreza, já me começo a habituar, mas não me deixam indiferentes a uma coisa destas.
Pessoas como o Rafael (que não devem de ser poucas) dão valor a todas as coisas, mesmo antes de as terem. É duro pensar assim, mas isto para mudar vai ter de dar uma grande volta.
Adorei o texto, e isso fez-me pensar no mundo do Rafael por mais uns minutos.
Beijinhos Catarina (:
Já há alguns tempos que procurava um texto com tamanho significado!
Fabuloso. Passagens perfeitas...
Enfim, além de ser algo que exprime uma ideia, um pensamento enorme, está escrito de uma forma sublime.
Parabéns.
Bejinho.
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