quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Miguel Esteves Cardoso


Aos quinze anos, já o coração cresceu, mas ninguém repara. Não o deixam bater como devia. As crianças crescem e os adultos envelhecem. E o que faz o adolescente? Coitadinho, não tem hipótese : adolesce. Aos quinze anos, o mal é este: nem se é tratado como adulto (como se queria) nem se é tratado como criança (o que sempre consolaria). Não se é tratado. Ponto final. Os 15 anos são intratáveis. Os mais novos - a malta do armário, enfrentando o absurdo da puberdade - não têm nada, mas nada a ver. Os mais velhos olham para quem tem 15 anos como se olha para quem tem lepra. Restam apenas as outras pessoas com 15 anos, mas essas estão demasiado ocupadas com ter 15 anos para poderem reparar nas outras almas com as quais partilham tal aflição. Só apetece chorar. É o que se faz.
Chora-se muito. Aos 15 anos tudo é muito importante. É-se uma pessoa nova pela primeira e única vez na vida e o mundo, difícil e grande, percebe-se e faz-se pesar tal e qual ele é. (A partir dos 16 anos já não se aguenta e finge-se que é mais fácil ou mais pequeno). Aos 15 anos tudo é muito tudo, e é tudo ao mesmo tempo. Há muitas coisas que se querem muito e sofre-se muito por não as ter e brada aos céus o quanto se precisa realmente delas e parece impossível que ninguém perceba. E é incrível como toda a gente se junta para nos impedir de alcançá-las. E é muito triste saber que há-de ser assim durante toda a vida, que é quando dura ter 15 anos. Mas a luta continua.
Aos 15 anos, tudo é muito, simplesmente. Qual simplesmente! Complicadamente. Tudo é muitíssimo. É preciso muito e é muito preciso. É tudo muito lindo e muito difícil e muito injusto e muito urgente e pronto - será assim tão difícil de perceber? O mundo é mesmo como se vê quando se tem 15 anos, só que acabamos por desistir de vê-lo assim, porque custa tanto (...)






(Está exagerado, eu sei. Nem muitas das coisas acontecem comigo, mas li e gostei.)

3 comentários:

Inês disse...

"O mundo é mesmo como se vê quando se tem 15 anos, só que acabamos por desistir de vê-lo assim, porque custa tanto (...)"
apenas a unica oportunidade de viver os 15 anos. choramos rimos mas no fim dizemos apenas 'foi bom' sem olhando para trás e recordar tudo o que se passou
amo-te minha.

Vera disse...

(A partir dos 16 anos já não se aguenta e finge-se que é mais fácil ou mais pequeno).

Se calhar pode estar realmente exagerado mas concordo com este texto, gostei e sorri até. Os quinze anos, os quinze anos.. Na verdade são todos complicados a partir da altura que o 'querer' é comandado por 'nós', por nós como ainda adolescentes.
Aos 16 se calhar é realmente assim, mas penso que cada ano mais faz aumentar o cinismo, faz aumentar o segredo. O que se liberta quando se tem 15 anos já não é assim mais, esse é sem dúvida o ano da revolta, o ano em que dizemos sem pensar o que queremos, que libertamos se calhar sem querer o que guardámos durante tantos dias seguidos a partir de que começamos a perceber. É realmente o ano em que deixamos de ter medos porque os libertamos todos para fora - ainda assim não te convenças que ficam sempre longe, eles voltam, se calhar disfarçados na pele de outros mas voltam.
Agora, aos 16, eu já não tenho vontade para me chatear. Já me vou acomodando e mudando um pouco em silêncio o que para mim está mal. Finge-se sempre que o sorriso é a melhor forma de dar a perceber que 'estamos bem, estamos óptimos'. A vida parece mais a sério, a vida parece mais difícil e sem dúvida, já não és realmente nenhum criança.
Ainda assim não te assustes, vive bem esses quinze anos, liberta tudo que tens para libertar, sê feliz e não lamentes nem faças lamentar nada. É a preparação para sermos grandes, e vale realmente a pena estarmos bem preparados. Mas como eu disse, não te assustes, não temas os 16 porque de ano para ano eu. como outra pessoa, vou estar aqui e dizer-te que vai ser sempre pior. As crianças que éramos, e ainda conseguíamos disfarçar nos tais 15 anos, viajaram para sempre para fora da nossa mente, do nosso controlo. E fica sempre a lembrança no coração que acalenta e nos faz sorrir.

Uns bons quinze anos minha querida. E qualquer coisa, qualquer medo ou dúvida eu fico a contar que me procures. Eu gosto de ti :')
Um beijinho muito grande!

Bruno gomes disse...

O texto nao está completo