sexta-feira, 13 de novembro de 2009

à distância




"We're pulling apart and coming together again and again, we're growing apart but we pull it together, pull it together again (...) Don't let me go"

Deixei-te ali, acompanhada pelas folhas que o vento te trazia e com o seu gélido ar. Deixei-te ali, naquela tremenda sexta-feira 13, largando tudo o que me tens proporcionado nos últimos tempos.
Ainda me recordo, meu amor, ainda me recordo destes nossos tempos em que dávamos importância às pequenas discussões que uma relação de adolescente tinha e transformávamo-nos em meros desconhecidos. E sempre que me recordo de tudo isto largo um sorriso, um sorriso repleto de ironia – por sinal, sempre fomos muito bons nestes sinais.
Hoje lembrei-me de ti, como já não era de esperar. Mas hoje a saudade bateu mais forte, às vezes sinto isto quando me coloco no parapeito da janela e observo o espaço que usufruo neste momento, e custa-me não te ver cá, todos os dias, como nos víamos na escola quando éramos adolescentes. Aqui, no Iraque, estou rodeado de pessoas que desvalorizam os sentimentos. Deixaram as mulheres em casa, como eu te deixei a ti, na esperança de proporcionarem uma vida melhor à sua família mas só os vejo a desbastar o dinheiro como se fosse fácil ganhá-lo. Tenho saudades desse povo, tenho saudades da felicidade que me proporcionavas todos os dias.
Estou aqui a olhar para as fotografias que tirámos quando namorávamos, lembras-te? Eu vestido de uma forma que nem merece qualquer comentário e tu sempre a esconder a cara. Que bons tempos. Fora de preocupações – quer dizer, supostamente não deveríamos ser pessoas preocupadas, éramos jovens mas a adolescência ensina-nos a complicar e ganhámos muito essa mania, por muito que nos prejudicasse. E recordo-me do clima em que vivíamos, o tempo que o usufruímos juntos e o tempo que sofri sem ti. E como me orgulho do sentimento que guardo por ti durante este tempo todo: desde o primeiro dia que começámos nos nossos namoricos que éramos obrigados a conciliar horários de escolas diferentes, passando por tardes intensas de verão e acabando nos dias que usufruíamos ao lado um do outro na mesma escola; até agora, que mesmo não te vendo há vários meses guardo-te aqui, junto a mim. Espero que estejas bem e que estejas a cuidar de ti todos os dias. Lembra-te que estou aqui por nós e que em breve voltarei com uma vida melhor. Guardo de ti o melhor que alguém pode ter, nunca te desvalorizes e lembra-te que tens contigo o melhor que alguém te pode oferecer. Vivemos assim, numa constante troca de sentimentos que nos rasgam um sorriso na cara todos os dias. Meu amor, espero sair rápido desta guerra e voltar a ver-te, voltar a abraçar-te sabendo que és minha como sempre foste.
No meio de tantas cartas que te escrevo vou lamentando se me escapa algum pormenor que aches relevante, mas por vezes não sou muito bom neste jogo de palavras, sempre foste tu quem possuía esse dom.
Somos a maior prova de que o sentimento triunfa e peço desculpa por aqueles dias em que te deixei sozinha, a sentir o vento gélido a bater-te na cara com as lágrimas a escorrerem e lamento recordar-me disso hoje, que é sexta-feira 13 exactamente igual àquela em que nos despedímos. Mas sabes, éramos tão ingénuos que não sabíamos o que o futuro nos esperava. Sofríamos muito com o que vivíamos, vivíamos tudo muito intensamente e por vezes tomávamos atitudes que, apesar de eu pensar que eram as correctas, destruíam a nossa relação. Agora damos valor ao que sentimos e tenho pena dos pequenos que se julgam grandes pelas grandes atitudes que cometem e esquecem-se que a grandeza das atitudes não define a grandeza da personalidade da pessoa, tenho pena deles por desprezarem tanto os seus sentimentos, como nós desprezámos os nossos, tenho pena deles por gostarem de expor os seus sentimentos tão rapidamente que nem sequer os conhecem e não têm noção do valor das palavras que pronunciam.
Hoje recordei os nossos tempos de felicidade juntos, como nos deixávamos levar num profundo sentimento que absorvia os nossos corpos. Recordo-me de gostar de ter os meus braços à tua volta, como que te protegendo, deixando a tua cabeça deslizar até ao meu peito. Os nossos beijos, os nossos passeios e o calor que transmitiamos um ao outro num dia de temporal, como o que assisto agora. E dava tudo para viver esses momentos todos os dias, ao teu lado, entregando-te o meu coração como sempre me entregaste o teu e eu admirava guardá-lo. Tu dizias "está a chover lá fora" e agarravamo-nos ainda mais de forma a que ficássemos quentes, e eu beijava-te a testa, tal como gostas, e esquecíamos a chuva, porque o que importava era estarmos em minha casa, no meu quarto, no teu coração.
Nunca te esqueças que guardo um carinho enorme por ti, todos os dias, e estou aqui a lutar por nós, pela nossa vida.

Minha eterna pequena
Francisco

3 comentários:

Emmeline disse...

e que bem que o teu coração falou. olha, linda catariiina, adorei o teu comentário, até digo mais, foi dos meus melhores bons dias, :)
beijinhos

Vera disse...

que linda carta, que linda história, e que doce vontade deu de ler :)
já agora, obrigada pelo teu comentário, não tens que agradecer os meus, sempre que os sinto eu escrevo-os, e fico feliz por te dizerem tanto, mesmo. és uma rapariga fantástica Catarina, e eu espero mesmo, que ainda consigas ser realmente feliz com aquilo porque lutas tanto. se há alguém que merece verdadeiramente, és tu! * um beijinho

Inês disse...

eu sei que não é apenas uma carta imaginária. conseguiste, secretamente, esmiuçar tudo o que sentes e pelo que tens passado. mereces tudo de bom, Minha Pequena*